Lula rejeita envio de tropas à Ucrânia e critica exclusão da Europa nas negociações

Presidente reforça compromisso com a paz e questiona estratégia dos EUA nas negociações.

Por Geisa Ferreira da Silva
20/02/2025 08h25 - Atualizado há 3 meses
Lula rejeita envio de tropas à Ucrânia e critica exclusão da Europa nas negociações
Lula e primeiro-ministro de Portugal reforçam compromisso com a paz e rejeitam envio de tropas para a Ucrânia.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que o Brasil não enviará tropas para a Ucrânia, limitando sua participação a missões de paz e enfatizando a importância de negociações diplomáticas entre os envolvidos no conflito.

Lula criticou a abordagem do ex-presidente Donald Trump nas negociações com a Rússia, destacando a necessidade de incluir a União Europeia e a Ucrânia.

Além disso, ele sugeriu a realização de uma pesquisa de opinião sobre os territórios ocupados, proposta que já havia sido criticada anteriormente. Desde o início da guerra, o Brasil mantém uma posição neutra, sem fornecer apoio militar à Ucrânia.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (19) que o Brasil não enviará tropas para a Ucrânia, reforçando que a participação do país restringirá as missões de paz. A declaração veio durante um encontro no Palácio do Planalto com o primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro.

Lula também criticou a postura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem negociações diretas com a Rússia sem incluir a União Europeia e a própria Ucrânia. Para o líder brasileiro, a ausência de todos os envolvidos no conflito dificulta qualquer avanço no rumo da paz.

Outro ponto polêmico abordado pelo presidente foi sua defesa de uma pesquisa de opinião pública como possível solução para o conflito, uma proposta semelhante ao referendo que sugeriu no passado e que foi amplamente criticada.

Brasil só participa de missões de paz

De acordo com a revista The Economist , os Estados Unidos chegaram a sugerir, em conversas privadas com líderes europeus, a participação do Brasil e da China na manutenção de um possível acordo de paz. França e Reino Unido, por sua vez, exploraram a possibilidade de enviar tropas para atuar como forças de estabilização, criando uma zona neutra entre os exércitos da Rússia e da Ucrânia.

Apesar dessas movimentações, Lula foi enfático ao rejeitar qualquer envolvimento militar do Brasil no conflito. Segundo o presidente, a única forma de participação brasileira seria por meio de uma negociação diplomática acordada entre as partes envolvidas.

"O Brasil não enviará tropas. O Brasil só participará de missões de paz. Estamos ansiosos para ajudar em negociações, mas não mudaremos nossa posição. Quando os dois países quiserem conversar, estaremos na mesa. Fora disso, seguimos distantes do conflito, defendendo a paz" , declarou Lula.

Montenegro também descartou o envio de tropas portuguesas e reforçou a necessidade de um diálogo equilibrado. Segundo ele, qualquer plano de paz deve incluir tanto a Ucrânia quanto a Rússia , além da União Europeia.

“Não parece viável uma paz imposta à força. Isso contradiz o próprio conceito de negociação” , afirmou o primeiro-ministro português.


Críticas à condução de Trump nas negociações

Lula aprovou uma ocasião para criticar as movimentações do presidente Donald Trump. Segundo o líder brasileiro, o republicano tem prorrogação tratativa com o presidente russo, Vladimir Putin, sem considerar os interesses europeus ou da Ucrânia.

“A União Europeia está envolvida profundamente nessa guerra e não pode ficar de fora das negociações. Se Trump realmente quer a paz, precisa incluir todos os envolvidos” , disse Lula.

O presidente também defendeu que outros países, como China, Índia e Brasil , poderiam ter um papel fundamental na mediação do conflito. Essa posição tem sido reiterada pelo governo brasileiro desde o início da guerra.


Pesquisa de opinião como solução para a guerra?

Lula voltou a mencionar uma ideia controversa: a realização de uma pesquisa de opinião pública para determinar o destino dos territórios ocupados pela Rússia.

No ano passado, ele já havia sugerido um referendo para que os habitantes daquelas regiões escolhessem entre permanecer parte da Ucrânia ou se integrarem à Rússia. A proposta foi amplamente criticada por ser vista como uma forma de legitimar as anexações forçadas feitas por Moscou.

Dessa vez, Lula reformulou sua proposta, mencionando a possibilidade de uma pesquisa de opinião realizada pela ONU .

"Durante muito tempo, defendi que o conflito poderia ter sido resolvido com uma pesquisa de opinião pública. A ONU poderia contratar um instituto para perguntar à população local: 'Você se considera russo ou ucraniano?'. O resultado seria acatado e o problema estaria resolvido. Mas, infelizmente, a relação humana não funciona assim" , afirmou o presidente.

A sugestão de Lula refere-se aos referendos organizados pela Rússia em setembro de 2022 em Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzia – territórios ucranianos ocupados militarmente. A comunidade internacional não reconheceu essas votações, pois foram conduzidos sob controle militar russo, em desacordo com a lei ucraniana. Mesmo assim, Putin utilizou os resultados para explicar a anexação dessas regiões.


O Brasil mantém posição neutra na guerra

Desde o início do conflito, o Brasil adotou uma postura de neutralidade , recusando-se a fornecer armas ou equipamentos militares para a Ucrânia. O governo brasileiro chegou a negar um pedido de exportação de munições feito pela Alemanha para auxiliar Kiev.

Lula argumenta que sua posição busca evitar o prolongamento da guerra e reforçar a necessidade de negociações que incluam ambos os lados do conflito .

"Não há paz possível se apenas um lado para ser ouvido. Temos defendido isso desde o ano passado e, agora, até os franceses passaram a reconhecer essa necessidade" , afirmou o presidente, referindo-se a um telefonema recente com Emmanuel Macron.

O mandatário francês tem liderado esforços para fortalecer o apoio militar à Ucrânia e, segundo fontes diplomáticas, pediu o apoio do Brasil para ampliar as negociações de paz.

Ainda assim, Lula segue evitando o partido direto no conflito, mantendo uma diplomacia brasileira focada na defesa do diálogo entre as partes envolvidas.


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