Em um mundo cada vez mais digital, onde as telas dominam o cotidiano e as redes sociais exigem atenção constante, muitas pessoas buscam alternativas para reduzir o estresse e a ansiedade gerados pelo excesso de informações.
Uma prática que vem se consolidando como aliada da saúde mental é a de colorir livros, atividade simples, mas que oferece grandes benefícios emocionais.
A proposta não é exatamente nova. Cerca de uma década atrás, os livros de colorir para adultos, com imagens de jardins e mandalas, se tornaram febre. Hoje, o universo dos desenhos se ampliou e os temas variam bastante, indo de cenas detalhadas da natureza a ilustrações curiosas de animais vestidos e realizando tarefas do dia a dia.
Apesar das mudanças de estilo, o objetivo permanece o mesmo: desacelerar a mente e reduzir o tempo gasto online.
Chega de stress digital: colorir livros pode ser o antídoto que você precisa.
O professor Sérgio Kodato, do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, explica que a prática tem respaldo científico. “Atividades como colorir podem ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade porque induzem um estado mental semelhante ao da meditação”, afirma o especialista.
Segundo ele, dedicar tempo a uma tarefa manual permite que o foco se desloque para o presente, aliviando a mente de preocupações imediatas e promovendo uma sensação de relaxamento. Além disso, há estudos que demonstram que colorir pode diminuir os níveis de cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, contribuindo para um clima de bem-estar geral.
Kodato destaca que os livros de colorir são até utilizados como instrumento terapêutico, especialmente na prática de arteterapia. “Eles são úteis para pessoas que lidam com ansiedade, estresse e até mesmo depressão, porque as cores auxiliam na expressão emocional e no relaxamento mental”, explica.
Para o especialista, o ato de colorir atua como um canal de expressão criativa, funcionando não apenas como passatempo, mas também como recurso importante para saúde mental.
Quem experimentou os benefícios na prática foi a estudante Giovanna Ravanelli Fidelis, que começou a colorir há cerca de seis meses. Ela relata que a mudança trouxe impactos muito positivos em sua rotina.
“O que senti mais diferença foi no meu humor e na qualidade de vida. No dia a dia, a gente está cheio de problemas e pendências. Parar e dedicar um tempo a algo só seu faz muita diferença”, conta.
Giovanna compartilha que, mesmo parecendo algo simples, os efeitos são notáveis. “Parece bobo, mas não é. Quando se coloca em prática, os sintomas são até físicos. Você se sente mais leve e disposto.”
Curiosamente, a paixão de Giovanna pelos livros de colorir começou justamente pelas redes sociais. “Eu conheci os livros pelo TikTok. Durante um tempo, meu feed estava cheio de pessoas pintando e explicando técnicas. Sempre gostei de desenhar, então comecei a acompanhar mais e resolvi tentar.”
Foi assim que ela comprou livros, canetas, pincéis e lápis, transformando a pintura em parte importante de sua rotina offline. “Sinto muita falta de me desconectar às vezes. Quando vi aqueles desenhos e as pessoas pintando, me senti inspirada e achei que seria benéfico para mim”, relata.
“Quando começo a colorir, isso me acalma. Para mim, é uma forma de terapia muito eficaz.”
Hoje, embora ainda precise estar conectada por conta do trabalho, Giovanna conta que reduziu drasticamente o tempo nas redes sociais. “Antes, eu estava online o tempo todo. Agora, quando chego do trabalho ou nos fins de semana, fico offline, me conecto com minha família, meus gatos, leio livros e pinto. Esses momentos me ajudam a saber quem eu sou, o que eu quero e a refletir melhor sobre a vida. É algo que as redes sociais não conseguem me oferecer”, afirma.
O professor Kodato reforça que o uso excessivo de dispositivos digitais está diretamente associado ao aumento da ansiedade e pode gerar fadiga mental.
“A exposição contínua a estímulos, informações e pressão social, somada à falta de interações presenciais significativas, pode gerar não apenas estresse, mas até comportamentos violentos ou autoviolentos”, alerta.
Nesse contexto, hobbies como colorir ajudam as pessoas a retomar o controle sobre o próprio tempo. “As redes sociais acabam virando um vício para muitos. As atividades manuais podem oferecer um escape saudável desse ciclo”, explica Kodato.
Kodato destaca que, além dos livros de colorir, existem diversas outras atividades capazes de promover os mesmos benefícios. Entre elas, estão:
“Essas práticas são excelentes formas de escapar dos estímulos digitais constantes, além de promoverem bem-estar emocional e autoconhecimento”, conclui o psicólogo.
Com informações: Agência SP.