Sessenta anos depois do lançamento da Mariner 4, a primeira missão da Nasa com destino a Marte, a busca por vida fora da Terra ganha um novo e empolgante capítulo. A mais recente expedição liderada pelo rover Perseverance já é considerada a mais promissora pela comunidade científica, trazendo resultados que podem se aproximar como nunca da resposta para uma das maiores questões da humanidade: existe vida fora da Terra?
No último dia 10, a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) divulgou uma descoberta que pode marcar um divisor de águas na exploração do planeta vermelho. Cientistas anunciaram a identificação de possíveis bioassinaturas em uma rocha localizada na cratera de Jezero, região onde rios e lagos fluíam há bilhões de anos.
A rocha batizada de Chevaya Falls chamou atenção dos pesquisadores por conter uma combinação de minerais e material orgânico, o que pode indicar vestígios de vida antiga em Marte. Segundo os cientistas da Nasa, há indícios de que os componentes encontrados possam ser microfósseis, formados a partir do metabolismo de microrganismos que, ao se alimentarem de material orgânico, teriam deixado rastros biológicos.
Esse tipo de marca seria comparável ao que, na Terra, indicaria a presença de vida microbiana ancestral. A descoberta é considerada uma das mais significativas da missão Perseverance até agora.
Embora a informação já circulasse em ambientes internos da Nasa há cerca de um ano, somente agora os dados vieram a público, após passar pelo processo de revisão por pares — uma etapa essencial no meio científico para validar e dar credibilidade a uma pesquisa. Os resultados foram publicados na prestigiada revista Nature, um dos periódicos mais respeitados do mundo.
A publicação reforça a relevância da descoberta, mas também alerta: os dados ainda não são conclusivos.
A grande dúvida que paira entre os cientistas é se os elementos encontrados realmente são resultado de atividade biológica ou apenas uma formação abiótica — ou seja, surgida de processos químicos não relacionados à presença de vida. Esse tipo de ambiguidade é comum em explorações planetárias, e exige um nível de análise que atualmente só é possível com o estudo direto das amostras em laboratórios terrestres.
Para a renomada astrônoma brasileira Rosaly Lopes, vice-diretora de Ciências Planetárias do Jet Propulsion Laboratory (JPL), braço da Nasa especializado em exploração espacial, o entusiasmo com a descoberta é legítimo, mas deve ser acompanhado de cautela. Segundo Rosaly, a confirmação de que se trata de vida microbiana só poderá ocorrer com análises mais profundas das amostras, realizadas aqui na Terra.
A expectativa agora gira em torno da possibilidade de trazer a amostra marciana para a Terra, o que permitiria uma investigação muito mais detalhada. No entanto, essa próxima etapa ainda não tem data definida.
De acordo com o administrador interino da Nasa, Sean Duffy, o retorno das amostras depende de fatores como orçamento disponível, tempo necessário para a operação e o desenvolvimento da tecnologia que será usada na missão de resgate. Por ora, a rocha Chevaya Falls representa uma das maiores esperanças da ciência moderna em comprovar a existência de vida extraterrestre, mesmo que microscópica e há bilhões de anos.
O Perseverance, com seus instrumentos sofisticados e sua rota traçada pela antiga cratera de Jezero, segue como peça central dessa investigação histórica.
Com informações: Agência Brasil.