Cientistas descobrem nova parte do sistema imunológico

Cientistas descobrem mecanismo oculto no corpo humano que pode levar a novos tratamentos contra superbactérias.

Por Geisa Ferreira da Silva
10/03/2025 15h12 - Atualizado há 1 mês
Cientistas descobrem nova parte do sistema imunológico
Bactérias Staphylococcus sendo destruídas por antimicrobianos naturais produzidos pelo proteassoma. Foto: Freepik

Uma descoberta revolucionária acaba de transformar a compreensão sobre o sistema imunológico humano e pode abrir caminho para uma nova geração de antibóticos naturais.

Pesquisadores do Instituto de Ciências Weizmann, em Israel, identificaram um mecanismo inexplorado dentro das células do corpo que atua como uma defesa secreta contra infecções bacterianas.

A pesquisa, publicada na renomada revista Nature, revela que o proteassoma, uma estrutura conhecida por reciclar proteínas, possui um papel surpreendente na imunidade. Quando detecta uma infecção bacteriana, ele altera sua função e passa a produzir substâncias antimicrobianas capazes de destruir bactérias nocivas.

Proteassoma: de reciclador a combatente de bactérias

O proteassoma está presente em todas as células humanas e sua função primária é degradar proteínas envelhecidas para reciclá-las. No entanto, os cientistas descobriram que, quando uma célula é infectada, esse mecanismo sofre uma transformação inesperada. Ele começa a produzir compostos que atacam diretamente a parede externa das bactérias, levando à sua destruição.

A professora Yifat Merbl, líder do estudo, explicou: "Descobrimos um novo mecanismo de imunidade que atua em todas as células do corpo, produzindo uma classe inédita de antibóticos naturais." Essa capacidade abre um novo caminho para o desenvolvimento de medicamentos que possam combater a crescente resistência das bactérias aos antibóticos convencionais.

 
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Testes laboratoriais e impacto clínico

Os cientistas chamaram seu método de descoberta de "mergulho no lixo", pois investigaram os resíduos proteicos gerados pelo proteassoma para encontrar os compostos antimicrobianos. Os testes iniciais foram realizados em culturas de bactérias em laboratório e em camundongos infectados com pneumonia e sepse. Os resultados mostraram uma eficácia semelhante à de antibóticos tradicionais.

Além disso, ao desativar o proteassoma em células de laboratório, os pesquisadores observaram um aumento significativo na suscetibilidade às infecções, reforçando sua importância na defesa do organismo.

Oportunidade para novos antibóticos

A resistência bacteriana aos medicamentos é uma das maiores ameaças à saúde global, causando mais de um milhão de mortes anualmente. No entanto, o avanço da pesquisa sobre o proteassoma pode oferecer uma solução promissora.

O professor Daniel Davis, imunologista do Imperial College London, afirmou que os resultados são "profundamente importantes e surpreendentes". Ele destaca que, embora ainda seja necessário mais tempo para transformar a descoberta em terapias eficazes, esse novo caminho pode revolucionar o tratamento de infecções.

O futuro da pesquisa

A ciência tem buscado novos antibóticos em fontes diversas, desde o solo até o oceano, mas a possibilidade de encontrar tais substâncias dentro do próprio corpo humano é impressionante. A professora Lindsey Edwards, microbiologista do King’s College London, destacou que os compostos produzidos pelo proteassoma podem ter menos efeitos colaterais, já que já são naturalmente gerados pelo organismo.

Com o avanço da tecnologia, os cientistas agora têm as ferramentas necessárias para explorar esse "tesouro" escondido dentro de nós. A esperança é que essa nova abordagem possa acelerar a criação de alternativas eficazes contra infecções que, até agora, desafiam os tratamentos tradicionais.

Além das implicações clínicas, Merbl diz que a maior emoção foi descobrir um mecanismo celular fundamental que é regulado pelo proteassoma e é diferente de tudo o que se sabia anteriormente:

“Este estudo destaca como a inovação tecnológica e a pesquisa básica se entrelaçam de maneiras imprevistas. Sem a tecnologia que nos permitiu analisar o lixo celular, não teríamos feito essa descoberta, mas quando desenvolvemos essa tecnologia, nunca imaginamos que descobriríamos um novo mecanismo imunológico.”, conclui a cientista.

Também participaram do estudo as equipes do Prof. Zvi Hayouka da Universidade Hebraica de Jerusalém, do Prof. Nissan Yissachar da Universidade Bar-Ilan e do Prof. Gee W. Lau da Universidade de Illinois.


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