Operação 'Carbono Oculto' derruba esquema bilionário e reforça urgência de fiscalização financeira

Auditoria e transparência em transações financeiras devem ser criteriosamente observadas a fim de evitar fraudes e associações criminosas

Por Geisa Ferreira da Silva
03/09/2025 08h27 - Atualizado há 3 horas
Operação 'Carbono Oculto' derruba esquema bilionário e reforça urgência de fiscalização financeira
B4 é a primeira Bolsa de Ação Climática do Brasil, lançada com o objetivo de impulsionar o mercado de créditos de carbono assegurando segurança e rastreabilidade nas transações / Foto: Freepik.

 

 

 

Na última quinta-feira, 28 de agosto, a Polícia Federal, em parceria com a Receita Federal e o Ministério Público de São Paulo (MPSP), deflagrou a Operação Carbono Oculto, uma das maiores ofensivas já realizadas no Brasil contra a infiltração do crime organizado na economia formal. A ação mira um esquema bilionário liderado pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que atuava por meio de fraudes envolvendo combustíveis, fundos de investimento e fintechs.

 

Foram cumpridos 350 mandados de busca, apreensão e prisão em diversos Estados, envolvendo tanto pessoas físicas quanto jurídicas. De acordo com estimativas da Receita Federal, o grupo criminoso movimentou R$ 52 bilhões, consolidando a operação como um marco na luta contra crimes financeiros e lavagem de dinheiro no país.

 

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O significado do nome Carbono Oculto

 

O nome da operação, “Carbono Oculto”, foi escolhido como uma metáfora que se conecta à própria natureza do esquema. Enquanto a cadeia de combustíveis lida com a queima de carbono e a emissão de gases de efeito estufa — o "carbono visível" —, a investigação revelou a presença de um “carbono invisível”: dinheiro ilícito oriundo do crime organizado, infiltrado em atividades formais e mascarado em transações aparentemente legítimas.

 

A investigação aponta a existência de uma rede complexa de empresas, incluindo companhias de fachada e instituições com fachada legal, que operavam conjuntamente com ou sem o conhecimento total das fraudes. A extensão e pulverização da cadeia de combustíveis, que envolve produtores, distribuidoras, transportadoras, revendedores e investidores, cria zonas cinzentas onde empresas podem ter sido cooptadas ou associadas ao esquema sem plena consciência da ilegalidade.

 

 

Alerta sobre transparência e governança financeira

 

Segundo Odair Rodrigues, CEO e fundador da B4, primeira Bolsa de Ação Climática do Brasil, esse tipo de crime poderia ser evitado com o uso de tecnologias e processos de auditoria mais robustos. Ele defende o uso de blockchain para criar registros imutáveis, públicos e transparentes das transações financeiras.

 

 

A transparência é essencial. Instituições sérias podem evitar se envolver em transações criminosas com auditoria rotineira e sistemas que bloqueiam automaticamente transações irregulares”, afirmou.

 

A B4 utiliza ferramentas de checagem periódica inteligente e triagem documental. Qualquer descumprimento de cláusulas ou detecção de conflito de dados resulta na remoção automática da empresa da listagem de ativos, exigindo nova análise. O sistema de monitoramento da bolsa é realizado a cada 15 ou 30 dias, com o objetivo de garantir negociações seguras e sustentáveis.

 

 

Medidas imediatas e nova regulamentação para fintechs

 

Como consequência direta das investigações, a Receita Federal publicou, já na sexta-feira (29), uma nova portaria no Diário Oficial da União, submetendo fintechs às mesmas obrigações dos bancos tradicionais. A partir de agora, essas instituições deverão fornecer detalhes sobre todas as suas operações financeiras ao fisco.

O Banco Central também aumentará a fiscalização sobre o setor, visando impedir o uso de plataformas digitais para atividades ilegais, como as investigadas na Operação Carbono Oculto.

 

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou o posicionamento do governo ao defender ações mais rigorosas contra os crimes financeiros no país.

 

 

Legislação reforça necessidade de rastreabilidade

 

A operação lança luz sobre a importância da legislação vigente no controle das transações financeiras. A Lei nº 6.385/1976 instituiu a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com o objetivo de regulamentar o mercado de capitais e garantir eficiência e transparência. Já a Lei nº 8.021/1990 obriga a identificação do contribuinte em movimentações financeiras e proíbe pagamentos a beneficiários não identificados.

 

Mais recentemente, a Medida Provisória nº 1.303/2025, publicada em junho, estabelece um novo regime tributário para aplicações financeiras e ativos virtuais, revogando a isenção de Imposto de Renda para CRIs e CRAs e impondo novas regras a outros títulos. As alterações entram em vigor em 1º de janeiro de 2026, mas ainda dependem de aprovação pelo Congresso Nacional para se tornarem lei definitiva.

 

Rodrigues destaca que se essas normas estivessem operando via contratos inteligentes em blockchain, a fiscalização seria mais eficiente. “Não é apenas uma questão de tecnologia, mas de regras e governança. Empresas públicas e privadas precisam adotar metodologias mais modernas para prevenir fraudes, que infelizmente ainda são comuns no mercado financeiro.”

 

 

O papel das empresas e o consumidor consciente

 

O CEO da B4 também cita exemplos de boas práticas adotadas por empresas como O Boticário e Natura, que implementam processos transparentes sobre seus ativos ambientais e facilitam a compreensão do consumidor sobre suas escolhas de compra.

 

Ele também destaca a liderança da China na corrida tecnológica sustentável. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), 60% de toda nova capacidade de energia renovável entre 2025 e 2030 será instalada no país asiático, que lidera a produção de painéis solares, turbinas eólicas, veículos elétricos e baterias de íons de lítio.

 

Para o consumidor final, a informação é cada vez mais importante. Entender sobre pegada de carbono, certificação de matérias-primas e descarte de resíduos pode ser decisivo para fazer escolhas responsáveis.

 

 

A legislação vai evoluir para exigir transparência no rótulo, com possibilidade de aplicação de multas no futuro. A transformação já está em curso”, conclui Rodrigues.

 

 

Sobre a B4 – Bolsa de Ação Climática

 

A B4 é a primeira Bolsa de Ação Climática do Brasil, lançada com o objetivo de impulsionar o mercado de créditos de carbono por meio da tecnologia blockchain, assegurando segurança e rastreabilidade nas transações.

 

Desde 2023, a B4 oferece um ambiente regulado e confiável para empresas interessadas em compensar emissões de carbono e investir em práticas sustentáveis. A missão da instituição é consolidar o Brasil como líder global no mercado de créditos de carbono e contribuir para a transição climática global.

 

 

 


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