Guerra comercial dos EUA preocupa indústria da aviação

Novas tarifas comerciais geram preocupação na indústria aeroespacial, afetando fabricantes e fornecedores internacionais.

Por Rosalvo Oliveira
07/03/2025 12h24 - Atualizado há 1 mês
Guerra comercial dos EUA preocupa indústria da aviação
Fábrica de aeronaves serão impactadas pelas novas tarifas dos EUA. Foto: Divulgação Dassault Aviation

A recente implementação de tarifas comerciais pelos Estados Unidos, e os vai e vem de Donald Trump desencadearam uma onda de preocupações na indústria aeroespacial global, com impactos diretos em fabricantes, fornecedores e trabalhadores do setor. A decisão inclui uma taxa adicional de 25% sobre produtos do Canadá e México, além de uma tarifa de 10% sobre certos produtos chineses, ampliando tensões comerciais entre os países.

A aviação, historicamente protegida de sanções tarifárias por meio de acordos comerciais estratégicos, foi diretamente atingida nesta nova rodada de tarifas, impactando aeronaves, peças e componentes essenciais. As consequências dessa medida são imprevisíveis, especialmente porque os processos de fabricação e manutenção na aviação envolvem uma cadeia de suprimentos global complexa, onde partes de uma aeronave podem cruzar múltiplas fronteiras antes de sua montagem final.

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A preocupação das grandes fabricantes

Empresas líderes da aviação, como Bombardier, Airbus, Dassault e Textron Aviation, já alertaram para os riscos econômicos e operacionais gerados por essas tarifas. A Bombardier, que adiou sua previsão financeira para 2025 devido à incerteza comercial, afirmou que as tarifas prejudicam ambos os lados da fronteira e colocam em risco milhares de empregos. "Nossa indústria foi construída com décadas de colaboração", afirmou Éric Martel, presidente e CEO da Bombardier, destacando que a empresa tem 2.800 fornecedores baseados nos EUA em 47 estados.

O CEO da Airbus, Guillaume Faury, expressou receios de que essas tarifas levem a empresa a priorizar fornecedores não americanos, redirecionando sua cadeia de suprimentos. A Dassault Aviation também alertou sobre possíveis impactos na contratação e distribuição de aeronaves para os EUA, segundo seu CEO, Éric Trappier.

Efeitos no comércio e na cadeia de suprimentos

A indústria da aviação é caracterizada por um modelo de fabricação internacional altamente interligado. Grandes aeronaves comerciais e executivas são montadas a partir de componentes fabricados em diferentes países. Qualquer barreira comercial pode criar atrasos e aumentos de custos, forçando fabricantes a repensar seus processos logísticos e fornecedores.

Segundo a General Aviation Manufacturers Association (GAMA), essas tarifas podem gerar um efeito dominó, desencadeando medidas retaliatórias que ampliariam os impactos econômicos do setor. "Dada a natureza global da fabricação de aviação, essas tarifas e eventuais retaliações podem ter consequências severas", alertou a entidade.

Nos Estados Unidos, os impactos já começam a ser sentidos. A associação destacou que, em 2024, os fabricantes norte-americanos exportaram 490 aeronaves de asa fixa, entre jatos, turboélices e aviões a pistão, totalizando US$ 4,8 bilhões – equivalente a 31,2% do faturamento total do setor.

Reações globais e medidas emergenciais

O impacto das tarifas nos mercados internacionais já está gerando discussões entre entidades governamentais e industriais. No Canadá, a Aéro Montréal iniciou uma pesquisa para avaliar as perdas potenciais do setor aeroespacial. Nos EUA, a NBAA (National Business Aviation Association) programou um webinar emergencial para debater as implicações da decisão e buscar soluções.

O setor aeroespacial não pode simplesmente substituir fornecedores ou mudar seus processos produtivos da noite para o dia. O desenvolvimento e certificação de componentes aeronáuticos exigem anos de pesquisa e testes rigorosos, tornando inviável uma rápida adaptação às novas tarifas.

O futuro da aviação diante das tarifas comerciais

Embora o setor aéreo esteja acostumado a desafios, o cenário atual apresenta um obstáculo particularmente complexo. A incerteza gerada por essas tarifas pode resultar em aumento nos preços de aeronaves, impactos no mercado de trabalho e desestabilização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento. A cooperação internacional e políticas comerciais equilibradas serão essenciais para evitar maiores danos à aviação global.

As próximas semanas serão cruciais para determinar a extensão dos impactos e as possíveis negociações entre os países envolvidos. A aviação, um dos setores mais interconectados do mundo, precisa de um ambiente comercial estável para continuar inovando e garantindo segurança e eficiência no transporte aéreo internacional.


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