A recente implementação de tarifas comerciais pelos Estados Unidos, e os vai e vem de Donald Trump desencadearam uma onda de preocupações na indústria aeroespacial global, com impactos diretos em fabricantes, fornecedores e trabalhadores do setor. A decisão inclui uma taxa adicional de 25% sobre produtos do Canadá e México, além de uma tarifa de 10% sobre certos produtos chineses, ampliando tensões comerciais entre os países.
A aviação, historicamente protegida de sanções tarifárias por meio de acordos comerciais estratégicos, foi diretamente atingida nesta nova rodada de tarifas, impactando aeronaves, peças e componentes essenciais. As consequências dessa medida são imprevisíveis, especialmente porque os processos de fabricação e manutenção na aviação envolvem uma cadeia de suprimentos global complexa, onde partes de uma aeronave podem cruzar múltiplas fronteiras antes de sua montagem final.
Empresas líderes da aviação, como Bombardier, Airbus, Dassault e Textron Aviation, já alertaram para os riscos econômicos e operacionais gerados por essas tarifas. A Bombardier, que adiou sua previsão financeira para 2025 devido à incerteza comercial, afirmou que as tarifas prejudicam ambos os lados da fronteira e colocam em risco milhares de empregos. "Nossa indústria foi construída com décadas de colaboração", afirmou Éric Martel, presidente e CEO da Bombardier, destacando que a empresa tem 2.800 fornecedores baseados nos EUA em 47 estados.
O CEO da Airbus, Guillaume Faury, expressou receios de que essas tarifas levem a empresa a priorizar fornecedores não americanos, redirecionando sua cadeia de suprimentos. A Dassault Aviation também alertou sobre possíveis impactos na contratação e distribuição de aeronaves para os EUA, segundo seu CEO, Éric Trappier.
A indústria da aviação é caracterizada por um modelo de fabricação internacional altamente interligado. Grandes aeronaves comerciais e executivas são montadas a partir de componentes fabricados em diferentes países. Qualquer barreira comercial pode criar atrasos e aumentos de custos, forçando fabricantes a repensar seus processos logísticos e fornecedores.
Segundo a General Aviation Manufacturers Association (GAMA), essas tarifas podem gerar um efeito dominó, desencadeando medidas retaliatórias que ampliariam os impactos econômicos do setor. "Dada a natureza global da fabricação de aviação, essas tarifas e eventuais retaliações podem ter consequências severas", alertou a entidade.
Nos Estados Unidos, os impactos já começam a ser sentidos. A associação destacou que, em 2024, os fabricantes norte-americanos exportaram 490 aeronaves de asa fixa, entre jatos, turboélices e aviões a pistão, totalizando US$ 4,8 bilhões – equivalente a 31,2% do faturamento total do setor.
O impacto das tarifas nos mercados internacionais já está gerando discussões entre entidades governamentais e industriais. No Canadá, a Aéro Montréal iniciou uma pesquisa para avaliar as perdas potenciais do setor aeroespacial. Nos EUA, a NBAA (National Business Aviation Association) programou um webinar emergencial para debater as implicações da decisão e buscar soluções.
O setor aeroespacial não pode simplesmente substituir fornecedores ou mudar seus processos produtivos da noite para o dia. O desenvolvimento e certificação de componentes aeronáuticos exigem anos de pesquisa e testes rigorosos, tornando inviável uma rápida adaptação às novas tarifas.
Embora o setor aéreo esteja acostumado a desafios, o cenário atual apresenta um obstáculo particularmente complexo. A incerteza gerada por essas tarifas pode resultar em aumento nos preços de aeronaves, impactos no mercado de trabalho e desestabilização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento. A cooperação internacional e políticas comerciais equilibradas serão essenciais para evitar maiores danos à aviação global.
As próximas semanas serão cruciais para determinar a extensão dos impactos e as possíveis negociações entre os países envolvidos. A aviação, um dos setores mais interconectados do mundo, precisa de um ambiente comercial estável para continuar inovando e garantindo segurança e eficiência no transporte aéreo internacional.