Se tem coisa mais chata que refluxo, eu ainda não conheço. Para quem sofre com refluxo gastroesofágico, escolher a posição certa para dormir pode ser uma aliada importante no alívio dos sintomas. A dica é simples: dormir sobre o lado esquerdo do corpo para reduzir episódios de azia e regurgitação durante a noite.
Essa orientação não é à toa e pode ser explicada pela própria anatomia do sistema digestivo humano. O estômago está localizado predominantemente no lado esquerdo do corpo, e o esôfago se conecta a ele pela parte superior. Quando a gente deita sobre o lado esquerdo, a gravidade ajuda a manter o conteúdo gástrico no estômago, dificultando seu retorno ao esôfago e, consequentemente, reduzindo os sintomas de refluxo.
Pesquisas científicas reforçam a eficácia dessa prática. Um estudo publicado no Journal of Clinical Gastroenterology demonstrou que pacientes que dormem sobre o lado esquerdo apresentam menos episódios de refluxo noturno em comparação com aqueles que dormem sobre o lado direito ou de costas. A posição lateral esquerda se mostrou eficaz em reduzir a exposição do esôfago ao ácido gástrico, proporcionando alívio significativo dos sintomas.
Além disso, a terapia posicional, que incentiva o sono na posição lateral esquerda, tem sido utilizada como abordagem não farmacológica para o tratamento do refluxo noturno. Dispositivos específicos ajudam a manter essa posição durante o sono, contribuindo para a melhora dos sintomas e da qualidade do sono dos pacientes.
Outras medidas
Adotar a posição correta ao dormir é uma das estratégias para controlar o refluxo, mas outras medidas também são recomendadas:
Evitar refeições pesadas antes de dormir: consumir alimentos leves e aguardar pelo menos duas horas antes de se deitar.
Elevar a cabeceira da cama: manter a parte superior do corpo elevada pode impedir o retorno do ácido gástrico ao esôfago.
Evitar alimentos que desencadeiam o refluxo: como alimentos gordurosos, cafeína, chocolate e bebidas alcoólicas.
Manter um peso saudável: o excesso de peso pode aumentar a pressão sobre o estômago, favorecendo o refluxo.
Embora mudanças no estilo de vida e na posição ao dormir possam aliviar os sintomas do refluxo, é fundamental buscar orientação médica para um diagnóstico preciso e tratamento adequado. O refluxo gastroesofágico não tratado pode levar a complicações mais graves, como esofagite e úlceras.
Mas afinal, o que é o refluxo?
O refluxo gastroesofágico é uma condição que afeta milhões de pessoas no mundo e acontece quando o conteúdo do estômago retorna para o esôfago, provocando sintomas incômodos como azia, dor no peito e sensação de queimação na garganta. Acredite, é horrível. Embora seja comum, o problema pode impactar significativamente o bem-estar e, quando ignorado, causar complicações sérias.
Esse distúrbio acontece devido a uma falha no funcionamento da válvula chamada esfíncter esofágico inferior. Essa estrutura funciona como uma espécie de “porta” que se abre para permitir a passagem dos alimentos para o estômago e se fecha logo após. Quando ela não se fecha corretamente, o ácido gástrico pode subir, causando o refluxo.
Principais causas do refluxo gastroesofágico
Entre os fatores que favorecem o desenvolvimento do refluxo estão:
Alimentação inadequada: consumo excessivo de alimentos gordurosos, frituras, chocolate, cafeína, álcool e comidas apimentadas.
Obesidade: o excesso de peso aumenta a pressão sobre o abdômen, facilitando o retorno do ácido gástrico.
Gravidez: alterações hormonais e o crescimento do útero podem pressionar o estômago, favorecendo o refluxo.
Tabagismo: fumar compromete o funcionamento do esfíncter esofágico inferior.
Uso de certos medicamentos: como anti-inflamatórios, sedativos e antidepressivos, que podem afetar o sistema digestivo.
Sintomas mais comuns do refluxo
O principal sintoma é a azia, uma sensação de queimação que começa no estômago e pode subir até a garganta. Outros sinais incluem:
Regurgitação de alimentos ou líquidos ácidos;
Dor no peito que pode ser confundida com problemas cardíacos;
Rouquidão ou dor de garganta constante;
Tosse seca, especialmente à noite;
Dificuldade para engolir;
Sensação de bolo na garganta.
Diagnóstico e exames indicados
Para diagnosticar o refluxo, o médico pode se basear nos sintomas descritos pelo paciente, mas exames também são importantes para confirmar o quadro e descartar outras doenças. Entre os principais estão:
Endoscopia digestiva alta: avalia diretamente o esôfago e o estômago, identificando inflamações ou lesões.
pHmetria esofágica: mede o nível de acidez no esôfago ao longo de 24 horas.
Manometria esofágica: analisa a função motora do esôfago e do esfíncter esofágico inferior.
Tratamentos para refluxo: do estilo de vida aos medicamentos
O tratamento do refluxo pode variar de acordo com a gravidade dos sintomas. Mudanças no estilo de vida são essenciais para todos os pacientes, como:
Evitar deitar logo após as refeições;
Dormir com a cabeceira da cama elevada;
Adotar uma dieta equilibrada e evitar os alimentos gatilhos;
Praticar atividade física regular e controlar o peso.
Medicamentos também são amplamente utilizados, como os inibidores de bomba de prótons (omeprazol, pantoprazol) e os antiácidos. Em casos mais graves ou quando não há resposta aos tratamentos clínicos, pode-se considerar cirurgia, como a fundoplicatura.
Refluxo silencioso: uma ameaça invisível
Um subtipo importante é o chamado refluxo silencioso, que não causa azia, mas pode provocar tosse crônica, rouquidão, pigarro constante e sensação de algo preso na garganta. Por não apresentar os sintomas clássicos, muitas vezes o diagnóstico é tardio, e a condição pode evoluir para problemas respiratórios ou inflamações nas vias aéreas.
Complicações do refluxo não tratado
Ignorar os sintomas do refluxo pode levar a consequências sérias, como:
Esofagite: inflamação do esôfago causada pela ação constante do ácido;
Estenose esofágica: estreitamento do esôfago, dificultando a passagem dos alimentos;
Esôfago de Barrett: alteração nas células do esôfago que pode aumentar o risco de câncer esofágico.