Um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Técnica da Dinamarca (DTU) aponta que o consumo diário de aproximadamente 115 gramas de bolachas recheadas, menos de um pacote, está associado à perda média de 39 minutos de vida saudável.
A pesquisa, publicada na revista científica International Journal of Environmental Research and Public Health, utilizou o Índice Nutricional de Saúde (HENI) para avaliar o impacto de 33 alimentos comuns na dieta brasileira sobre a saúde e o meio ambiente.
“Não se trata do consumo de uma única bolacha, nem de uma única vez na vida, mas sim um consumo contínuo dessa porção de bolachas. Se a pessoa consome por muitos anos e de forma diária, esse hábito irá reduzir o tempo de vida saudável dela”, diz Aline Martins de Carvalho professora da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP em entrevista ao Jornal USP.
Os alimentos ultraprocessados são formulações industriais feitas a partir de substâncias derivadas de alimentos e aditivos alimentares cosméticos, com pouco ou nenhum alimento in natura ou minimamente processado.
Esses produtos são frequentemente ricos em energia e nutricionalmente desequilibrados, contendo altos níveis de sódio, gorduras e açúcares. Estudos anteriores já associaram o consumo desses alimentos a um risco aumentado de pelo menos 32 agravos à saúde humana, incluindo câncer, doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e problemas de saúde mental, como depressão.
Além dos efeitos adversos à saúde, o estudo também avaliou o impacto ambiental dos alimentos analisados. Produtos de origem animal, especialmente a carne vermelha, apresentaram os maiores custos ambientais, com altas emissões de gases de efeito estufa e grande consumo de água. Por outro lado, alimentos de origem vegetal, como feijão e frutas, tiveram melhores pontuações no HENI e menores impactos ambientais.
A pesquisa identificou uma dieta centrada em arroz, feijão e carnes bovina, suína e de frango nas diferentes regiões do Brasil. Houve também a constatação de uma monotonia alimentar e consumo reduzido de alimentos nativos e biodiversos, essenciais para melhorar tanto a nutrição quanto a sustentabilidade.
As piores médias do índice foram observadas nas regiões Nordeste e parte da região Norte, com variações de -61,15 minutos para o consumo de carne seca até +41,43 minutos para o consumo de açaí com granola.
“Nossas descobertas fornecem entendimentos valiosos sobre as consequências reais das escolhas alimentares individuais e institucionais, demonstrando seus impactos mensuráveis na saúde e no meio ambiente”, informam os pesquisadores no artigo, O artigo está disponível aqui.
Os autores do estudo recomendam a adoção de medidas regulatórias e fiscais pelos governos para permitir à população fazer escolhas alimentares mais saudáveis. Isso inclui a rotulagem nutricional frontal, regulação da venda de alimentos nas escolas, regulação da publicidade, subsídios para alimentos in natura e minimamente processados, e maior tributação de produtos nocivos à saúde.
Com informações: Agência de Notícias do Governo do Estado de São Paulo.