Uma pesquisa conduzida por especialistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que o consumo de alimentos ultraprocessados está diretamente associado ao aumento do risco de morte prematura. O estudo, publicado no American Journal of Preventive Medicine, analisou dados de consumo alimentar e mortalidade de oito países, incluindo o Brasil, e constatou que a cada 10% de aumento na ingestão calórica desses produtos, o risco de mortalidade por todas as causas sobe em média 2,7%.
Os alimentos ultraprocessados são formulações industriais feitas a partir de substâncias derivadas de alimentos e aditivos alimentares, com pouco ou nenhum alimento in natura ou minimamente processado.
Esses produtos são frequentemente ricos em calorias, sódio, gorduras saturadas e açúcares adicionados, além de conterem aditivos como corantes, aromatizantes e emulsificantes. Exemplos comuns incluem refrigerantes, salgadinhos, bolachas recheadas, embutidos e refeições prontas congeladas.
A pesquisa avaliou dados de países como Austrália, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos, México e Reino Unido. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, os ultraprocessados representam cerca de 55% da ingestão calórica diária, enquanto na Colômbia esse percentual é de aproximadamente 15%.
No Brasil, estima-se que 19,7% das calorias consumidas diariamente provenham desses alimentos.
No contexto brasileiro, o estudo estimou que, em 2019, cerca de 57 mil mortes prematuras entre adultos de 30 a 69 anos estavam associadas ao consumo de ultraprocessados. Isso representa aproximadamente 10,5% de todas as mortes precoces nessa faixa etária no país.
Além do aumento da mortalidade, o consumo elevado de ultraprocessados está associado a uma série de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer.
Uma revisão de estudos publicada no The BMJ identificou que esses alimentos estão ligados a pelo menos 32 agravos à saúde humana, incluindo transtornos mentais e doenças respiratórias.
Um estudo da Faculdade de Medicina da USP também apontou que o consumo elevado de ultraprocessados pode aumentar em até 58% o risco de desenvolver depressão persistente.
Os efeitos nocivos dos ultraprocessados vão além do conteúdo nutricional. O processamento industrial pode alterar a matriz alimentar, afetando a absorção de nutrientes e a saciedade. Além disso, os aditivos presentes podem desencadear processos inflamatórios e interferir no metabolismo.
O consumo frequente desses alimentos também tende a substituir opções mais saudáveis, como frutas, legumes e grãos integrais, agravando o desequilíbrio nutricional.
Diante dos resultados, os pesquisadores recomendam a implementação de políticas públicas que desestimulem o consumo de ultraprocessados e promovam escolhas alimentares mais saudáveis. Medidas sugeridas incluem rotulagem nutricional clara, restrições à publicidade desses produtos, especialmente para crianças, e incentivos fiscais para alimentos in natura ou minimamente processados.
No Brasil, o Guia Alimentar para a População Brasileira já orienta a base da alimentação em alimentos naturais e minimamente processados, evitando os ultraprocessados.
A recente reforma tributária também prevê a isenção de impostos para alimentos da cesta básica e a tributação seletiva de bebidas adoçadas, alinhando-se às recomendações dos especialistas.
Com informações: Agência de Notícias do Governo do Estado de São Paulo.